segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Recursos Educacionais Abertos (REA) em Medicina
Bibliografia Anotada de Mário G. Lopes (2013-12-16)
 
A bibliografia identificada (e anotada) teve duas fontes: 1) A PubMed, base de dados da Biblioteca do Congresso Norte-Americano que contém milhões de publicações peer-review na área da biomedicina (a nossa fonte mais importante); 2) Sitios ídoneos pertencentes ao governo norte-americano ou a duas sociedades científicas europeias: a European Society of Cardiology (ESC) e a Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC). Devo desde já referir que não pesquisei o ciberespaço brasileiro.

As três principais conclusões que podemos retirar desta pesquisa foram:

1 - Em biomedicina são raras as publicações sobre OER e as encontradas são da área da saúde pública pois o “aberto” significa sem encargos e a publicação científica faz parte do complexo industria-saúde, poderoso lobby económico-financeiro a nivel mundial.

2 - Dos sitios da web apenas aqueles destinadas ao publico são de livre acesso e fornecem, principalmente, textos e imagens paradas por vezes em suporte bilingue (inglês e castalhano).

3 - As sociedades científicas – como é o caso da ESC ou da SPC - fornecem os OER, muitos em multimedia, mas apenas aos respetivos sócios.

Ver Bibliografia Anotada

terça-feira, 10 de dezembro de 2013


Cibercultura por Pierre Lévy, 1997 – uma perspetiva atual

Em novembro de1997 as Editions Odile Jacob de Paris publicaram um livro com 322 páginas do pensador Pierre Levy – Cyberculture, Rapport au Conseil de l’Europe - resultante de um relatório apresentado ao Conselho Europeu no âmbito do projeto “Novas tecnologias: cooperação cultural e comunicação”. Em 1999 a editora brasileira Editora 34 de São Paulo publica a tradução brasileira, que está disponível em PDF, e a que tive acesso.

Dezasseis anos depois da divulgação deste trabalho original temos a noção do seu caracter inovador para a época, dando uma visão multifacetada do impacto das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) na sociedade humana, que era atingida por tecnologias, metodologias e práticas completamente novas. Devemos realçar que o livro teve como origem uma encomenda do Conselho Europeu que necessitava de ajuda para definir as políticas de colaboração cultural e de comunicação que o nosso espaço tentava construir. Esta sociedade em rede (ou melhor com inúmeras redes), europeia e global, não tem parado de evoluir e por essa razão considero esta obra datada. Mas as suas bases teóricas e as reflexões práticas continuam a servir de orientação para o mundo atual.

O livro esta dividido em três partes: Definicões, Proposições e Problemas, seguidas de Conclusões.

Vale a pena rever os temas principais que estão distribuídos pelas três partes do livro pois ajudam-nos a ter uma noção da extensão, profundidade e complexidade dos conceitos discutidos (mantendo a tradução em português-brasileiro).

Parte 1: Definições

As tecnologias tem um impacto? A infra-estrutura técnica do virtual. O digital e a virtualizacao do saber. A interatividade. O ciberespaco ou a virtualizacão da comunicação.

Parte 2: Proposições

O universal sem totalidade, essência da cibercultura. O movimento social da cibercultura. O som da cibercultura, A arte da cibercultura. A nova relação com o saber. As mutações da educação e economia do saber. As arvores do conhecimento, um instrumento para a inteligência coletiva na educação e na formação. O ciberespaço, a cidade e a democracia eletrónica.;

Parte 3: Problemas

Conflitos de interesse e diversidade dos pontos de vista. Crítica da substituição. Crítica da dominação. Crítica da crítica. Respostas a algumas perguntas frequentes.
Conclusões: A cibercultura ou a tradição simultânea

Cultura, como Instrução, saber, estudo, juntou-se à Eletrónica, às Telecomunicações e à Multimédia de forma a permitir uma nova Sociedade em Rede, com as suas Ciberculturas, onde estamos inseridos. A inteligência coletiva que antes estava muito reduzida no espaço e no tempo passou a não ter fronteiras (quer espaciais quer temporais). Os novos fenómenos globais, como a Primavera Árabe, o ciberterrorismo, a economia global e o elearning, entre outros, passaram a dar uma dinâmica própria aos vários grupos, países, regiões e continentes. As várias Ciberculturas desenvolveram-se de forma quase infinita.

Passarei a dar dois exemplos da cibercultura que nos invade e dos respetivos desafios que temos de vencer.

Exemplo 1

Há cerca de 18 anos, minha filha tinha 3 anos de idade e gostava muito de ver as gravações de vídeos de filmes infantis então em suporte VHS (em vídeo analógico). Manipulava com grande perícia os gestos necessário para ligar/desligar o leitor e o televisor, introduzir a cassete vídeo (e ejetá-la para a substituir por outra), iniciar a leitura (em velocidade normal ou rápida para a frente ou para trás) e parar a sessão. Estas aptidões foram adquiridas apenas por ver os pais executar esses gestos, pais que nunca a ensinaram de forma formal. A avó materna, então com 62 anos, recusava-se a "mexer na máquina" e alertava-nos para os eventuais perigos para a "menina" da autonomia que lhe era permitida. Tentámos múltiplas vezes convencer a avó a utilizar a tecnologia mas sempre se recusou até falecer (o que aconteceu este ano). Apenas manipulava a televisão, aptidão adquirida há muitos anos, ainda em nova.
Comentário: os seniores com 65 anos ou mais de idade, já constituem 20% da população portuguesa (2 milhões) e serão 35% em 2050. Torna-se necessário encontrar formas para atrair este numeroso grupo para a cultura atual ou seja para a Cibercultura.

Exemplo 2

Nos anos cinquenta do século passado costumava viajar com meus pais pela península ibérica. Meu Pai era o proprietário e o condutor da viatura automóvel, numa altura em que eram mais numerosos os meios não motorizados como os animais de carga e transporte, as carroças, etc. Numa época em que não havia o Automóvel Clube de Portugal nem telefones disponíveis, o condutor automóvel precisava, obrigatoriamente, de ter conhecimentos e aptidões para poder resolver os inúmeros problemas de mecânica que surgiam diariamente: furos dos pneus (com câmara de ar cujo orifício da rutura tinha de ser “colado” com uma pequena tira de borracha) ou entupimento dos filtros da gasolina (devido ao elevado grau de impurezas que continha nomeadamente em Espanha após a guerra civil) entre outros azares da condução automóvel  em meados do século XX. Minha Mãe não tinha carta (nem fumava), necessitava de autorização do marido para sair do país e dedicava-se à ocupação de dona de casa.
Hoje, sessenta anos depois, a mudança é radical. Mas na Arabia Saudita as mulheres não estão autorizadas a conduzir automóveis.
Comentário: O automóvel precisou de mais de cem anos para se generalizar como meio de transporte individual e coletivo. O livro impresso produzido pelo método de Gutenberg iniciou-se em 1450 na Europa (e no século XI na China) e precisou de longos séculos para se transformar numa peça essencial de cultura, de comunicação e de ensino-aprendizagem. A Cibercultura – a cultura associada às novas TIC – está a expandir-se à velocidade da luz. Esta evolução é brutal apenas numa década. O impacto que pode ter nas pessoas (individualmente e em grupo) e nas sociedades é enorme. Não nos devemos esquecer que, ao contrário de outras épocas da evolução da humanidade, o objetivo não é descobrir e desenvolver as elites. Agora temos de atingir todos, desde os jovens com acesso ao Ensino, até aos outros, incluindo os menos jovens, os seniores e todos aqueles com graves dificuldades socioeconómicas. No III Coloquio Luso-Brasileiro sobre EaD/Elearning foi referido que 50% da população brasileira não tem acesso ao computador ou à web.

Temos pois de fazer uma reflexão crítica sobre a Cibercultura, introduzindo a problemática do Tempo e dos Recursos para que a cultura e a tecnologia sejam absorvidas pela comunidade humana para contribuir para a sua liberdade e felicidade (e não ficarmos apenas nas comunidades virtuais existentes).

segunda-feira, 21 de outubro de 2013


Como praticar um copyright  justo e apropriado à comunidade universitária portuguesa?
Com o título “APEL queixa-se à ASAE de estudantes que partilham livros de medicina na Net“ a revista Exame Informático (que se publica em Lisboa), relata online, em 21/10/2013 11:09, que a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL)  fez queixa à Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE). de um grupo de alunos de medicina (CCFML2011 ou Comissão de Curso de 2011 da Faculdade de Medicina de Lisboa) estarem a disponibilizar edições digitais não-autorizadas num sitio que mantêm para apoiar os seus colegas. Esta noticia pode ser lida aqui.
Já há 3 comentários que discutem este assunto atual que considero particularmente importante: como transmitir, no mundo de hoje, o conhecimento científico preservando os direitos da propriedade intelectual dos autores?
Eu próprio tenho muitas dúvidas mas gostaria que houvesse um caminho considerado correto. Fico a aguardar ideias e propostas, que desde já agradeço.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013


Experiência como estudante do MPeL7 no Módulo de Ambientação

1 – Integrado no Mestrado Pedagogia do Elearning na sua 7ª edição (MPeL7) tive a oportunidade de participar num período de ambientação às ferramentas do ensino a distância (Mambo7). Este foi o meu primeiro contacto com o elearning profissional e as suas metodologias, neste caso o Modelo da Universidade Aberta de Lisboa.

2 – Para além da natural “confusão” de contactar com estas várias metodologias integradas num grupo de colegas e docentes, considero a experiência muito positiva. Preciso, no entanto, de tempo para interiorizar e automatizar muitas práticas e métodos.

3 – O aspeto mais relevante desta experiência foi a comunicação com o grupo através de Forum de Discussão. Todos os colegas parecem muito interessados (e interessantes) com antecedentes muito variados mas todos muito motivados. Sei que o MPeL7 irá ultrapassar as minhas expectativas iniciais.

4 – Uma crítica que quero fazer aos vários Forum (Fora?) em que participei, incluindo o Cibercafé, é a eficácia pedagógica deste tipo de meio. Fiz muita leitura em cada um dos Fora (e tentei participar ativamente em cada um deles) mas fiquei com a sensação que esta metodologia é menos eficaz do que esperaria. Por um lado há um certo grau de divagação (onde eu próprio fui conivente) e por outro lado algumas (muitas?) das intervenções fundamentam-se em conhecimento pessoal e como tal de qualidade informativa variável. Penso que há aqui um defeito meu. É como se tivesse passado a frequentar a 6ª classe quando deveria estar ainda na 2ª! Será assim?

5 – Como estudante muito sénior sinto (tenho sentido e vou continuar a sentir) dificuldades com as metodologias e ferramentas de comunicação, partilha e trabalho do elearning. Pela experiência passada sei que, em regra, os produtos educacionais (bem) pagos têm uma elevada qualidade na interface aplicação-utilizador, o que nem sempre se vê (e sente) nos softwares grátis. Para as novas gerações o problema coloca-se noutro patamar mas não devemos esquecer a sabedoria popular que diz que “burro velho não aprende línguas”. Eu acrescentaria: e quando as quer aprender necessita de outra pedagogia e de mais apoio e tempo.

6 – Voltando aos aspetos positivos desta ambientação (que foram muitos, pelo que agradeço a todos, à coordenadora infatigável e aos colegas amigos) ressalvo os pontos a reter como características fundamentais do estudante online:

      I.        Persistence;

    II.        Effective Time-Management Skills;

   III.        Effective and Appropriate Communication Skills;

  IV.        Basic Technical Skills;

   V.        Reading and Writing;

  VI.        Motivation and Independence;

 VII.        A Good Study Environment;

(Adaptado de What Makes a Successful Online Learner?
http://www.iseek.org/education/successonline.html - Acedido a 2013-10-08)

E ainda sobre a participação em Forum de Discussão:

      I.        Manter a discussão centrada nas questões em debate ou em análise;

    II.        Abrir um novo tema/tópico apenas quando se trata de um novo assunto;

   III.        Inserir as respostas às mensagens no ponto correto do fio de discussão;

  IV.        Usar os títulos das mensagens, incluindo nas respostas;

    V.        Evitar mensagens longas e que abordem muitos assuntos;

  VI.        Não incluir ficheiros em anexo;

 VII.        Aceder com a regularidade necessária a um acompanhamento e participação adequados;

VIII.        Procurar contribuir elaborando cada participação na própria mensagem, evitando imprimir e depois contribuir;

  IX.        Evitar chegar no final da discussão, pois as discussões têm um ritmo próprio, que é rápido, com a sua própria curva de aprendizagem.

(Regras para participar numa Discussão/Debate num Fórum de Discussão. Adaptado em 2013-10-12 por MGL de Lina Morgado - Sexta, 11 Outubro 2013, 09:57 http://elearning.uab.pt/mod/forum/discuss.php?d=12790)


7 - Em resumo no Mambo7 retirei como mensagens mais importantes:

7.1- As boas características do estudante tradicional (presencial) devem ser ampliadas no estudante online: a) os valores (ética) e a tolerância nas relações interpessoais e com o próprio, b) a disciplina, o rigor e a curiosidade em aceder à nova informação científica, c) a partilha e a interajuda entre cada estudante; d) a capacidade de comunicar de forma empática e eficaz, sempre disponível; e) a aprendizagem à frente do ensino, o estudante à frente do docente.

7.2 - O estudante online é tipicamente o adulto motivado com uma vida ativa, com elevada capacidade de gerir o seu tempo disponível, capaz de evitar o excesso de informação (identificando o conhecimento operativo), dominando bem a gestão do trabalho cooperativo;

7.3 - O estudante online tem acesso a ferramentas e metodologias do elearning que são fundamentais para desenvolver a aprendizagem ao longo da vida, o que não é possível com o processo de aprendizagem-ensino exclusivamente presencial.

8 – Como comentário final gostaria de lamentar a pouca utilização da oralidade nesta quinzena de ambientação. Esta forma de comunicação permitiu modelar a evolução da espécie humana durante dezenas de milénios. Seguiram-se os livros e equivalentes durante oito séculos. Nas últimas décadas as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) vieram dar um extraordinário avanço à nossa capacidade de aprender e partilhar o conhecimento científico (e não só). Mas as TIC permitem utilizar a multimédia e a oralidade com uma facilidade e baixo custo que justificam a sua generalização.